Com estimativa de 73 mil novos casos de câncer de mama em 2025, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA) e o Ministério da Saúde, especialistas alertam que o apoio das empresas às mulheres deve ir além de campanhas pontuais. O impacto emocional do diagnóstico e do tratamento do câncer de mama revela a necessidade de políticas corporativas permanentes de cuidado e acolhimento.
Saúde mental ainda é negligenciada nas campanhas
Segundo a psicanalista e presidente do Instituto de Pesquisa de Estudos do Feminino (Ipefem), Ana Tomazelli, muitas ações do Outubro Rosa acabam se limitando ao marketing visual. “O Outubro Rosa se tornou, em muitos casos, uma oportunidade de marketing superficial. As empresas iluminam prédios de rosa e distribuem lacinhos, mas quando a funcionária recebe o diagnóstico, ela se vê sozinha diante de uma estrutura corporativa que não está preparada para acolhê-la de fato”, analisa.
Depressão e ansiedade são comuns entre pacientes e familiares
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-V), cerca de 33% das pacientes com câncer de mama desenvolvem depressão. Estudos publicados na Revista de Saúde estimam que até 35% das mulheres enfrentam ansiedade e depressão durante o tratamento. O impacto também atinge familiares e colegas de trabalho, que convivem com o estresse e a sobrecarga emocional do acompanhamento.
Uma pesquisa da Deloitte, realizada com cinco mil mulheres em dez países, revelou que 53% delas estavam com níveis de estresse elevados e 46% apresentavam sinais de esgotamento profissional. “A mulher que está em tratamento não é apenas uma paciente — ela é mãe, filha, profissional, amiga. Quando a empresa ignora essa realidade, perde talentos e cria ambientes tóxicos onde o sofrimento silencioso se normaliza”, reforça Ana.
Apoio contínuo é essencial para uma cultura de cuidado
Pesquisas do National Center for Biotechnology Information (NCBI) mostram que quase 50% das mulheres com câncer de mama precoce apresentam depressão ou ansiedade no primeiro ano após o diagnóstico, e esses sintomas persistem em até 25% dos casos. Isso reforça a importância do acompanhamento psicológico prolongado e da criação de redes de apoio no ambiente corporativo.
A Lei 14.831/2024, que institui o Certificado Empresa Promotora da Saúde Mental, reconhece organizações que investem em bem-estar e saúde emocional. Para Ana Tomazelli, a norma pode ser um incentivo importante para ampliar o suporte a colaboradoras em tratamento oncológico e suas famílias.
Medidas para um Outubro Rosa de verdade
Para transformar o Outubro Rosa em um compromisso real, Ana sugere quatro pilares fundamentais para as empresas:
1. Políticas de flexibilidade — jornadas ajustáveis e licenças remuneradas para colaboradoras em tratamento ou que acompanham familiares, com possibilidade de home office durante períodos críticos.
2. Suporte psicológico especializado — parcerias com profissionais de saúde mental experientes em oncologia e grupos de apoio internos, com sessões de terapia cobertas pelos planos de saúde empresariais.
3. Capacitação de lideranças — treinamentos sobre comunicação empática e protocolos de acolhimento, além de incentivar conversas abertas sobre saúde mental e oncologia no ambiente de trabalho.
4. Benefícios ampliados — cobertura de mamografias, transporte para consultas e programas de reabilitação física e emocional pós-tratamento, garantindo um retorno saudável à rotina profissional.
“O suporte não pode ser sazonal. O cuidado não termina com o fim da quimioterapia. Quando as empresas investem em acolhimento contínuo, constroem ambientes mais humanos, produtivos e sustentáveis”, conclui Ana.
Diagnóstico precoce e suporte emocional salvam vidas
Nos estágios iniciais do câncer de mama, a sobrevida em cinco anos chega a 100%, mas cai para cerca de 70% em casos avançados. Em 2024, o SUS realizou mais de 4,3 milhões de mamografias em todo o país, segundo o Ministério da Saúde — um número que ainda pode crescer com o apoio das empresas privadas em campanhas permanentes e convênios acessíveis.
“O Outubro Rosa pode e deve ser um momento de visibilidade, mas não pode ser a única resposta corporativa ao câncer de mama. As empresas precisam apoiar não apenas o corpo, mas a mente e o espírito dessas mulheres. Essa é a verdadeira mensagem de cuidado”, finaliza Ana Tomazelli.
