A Folia de Reis é uma manifestação cultural e religiosa profundamente enraizada no estado do Rio de Janeiro, simbolizando a jornada dos Três Reis Magos em busca do Menino Jesus. Com origens europeias, essa tradição foi adaptada no Brasil, incorporando elementos da diversidade religiosa e cultural do país.
No Rio de Janeiro, diversas folias centenárias mantêm viva essa celebração. Em Duque de Caxias, destaca-se a jornada Reisado Flôr do Oriente, fundada em 1872 e atualmente sob a liderança do mestre Rogério. Em Mesquita, a folia Sete Estrelas do Rosário de Maria, estabelecida em 1874, e a Manjedoura da Mangueira, uma das mais antigas, fundada em 1855, continuam a tradição.
Apesar de sua longevidade, as folias enfrentam desafios contemporâneos. Mudanças no perfil religioso, com o crescimento de denominações que desencorajam a participação nessas manifestações, impactam a continuidade de alguns grupos. Além disso, a falta de políticas públicas de apoio e a violência em áreas conflagradas dificultam a circulação e a preservação dessas tradições.
Ainda assim, exemplos de resistência e renovação são evidentes. A Folia Irmandade Estrela Luminosa, de Nova Iguaçu, fundada em 1970 por Nestor Leal, passou por uma revitalização sob a liderança de Carlos Alberto de Oliveira, conhecido como Mestre Nego Sabará. Após o falecimento de seu pai, Jorge Sabará, em 2016, Nego Sabará reorganizou o grupo, incorporando jovens por meio de oficinas de música e canto, retomando as atividades em 2021.
A participação familiar é um pilar fundamental na manutenção das folias. Mestres como Gidalto, conhecido como Mestre Gigante, contam com o apoio de suas esposas, que assumem papéis importantes, como o de bandeireira. A Folia Estrela do Oriente de Lages, em Paracambi, fundada em 1987 pelo Mestre Mauro, conhecido como Mestre Tesourinha, teve continuidade com o Mestre Pipoca, após o falecimento de Mauro, mantendo o envolvimento familiar na tradição.
As Folias de Reis estão presentes em diversas regiões do estado, incluindo a capital, a Região dos Lagos, a Região Serrana, o Vale do Café e a Baixada Fluminense. Mais do que uma peregrinação, essas jornadas representam atos de fé e devoção. Muitos participantes cumprem promessas de sete anos, feitas em agradecimento a graças alcançadas por intermédio dos Santos Reis.
Para fortalecer a preservação dessa tradição, o projeto Cultura na Faixa desempenha um papel significativo ao promover oficinas de Folia de Reis em sua casa no Weda, em Itaguaí, Rio de Janeiro. A iniciativa visa resgatar essa tradição e manter viva a história da cidade, envolvendo jovens e comunidades em atividades que celebram a cultura e a memória local.
A preservação dessa tradição enfrenta desafios, mas a dedicação de mestres, familiares, comunidades e iniciativas como o Cultura na Faixa asseguram que a Folia de Reis continue a ser um símbolo de fé, cultura e resistência no Rio de Janeiro.