Há um sentimento sutil, silencioso e perigosamente aplaudido nos tempos atuais. Ele se disfarça de autoestima, se apresenta como carisma, posa de autenticidade.
Mas não é.
É vaidade.
E vaidade, quando se instala, corrói por dentro. Cega, desregula a bússola, altera a percepção do próprio valor, e do valor do outro.
Antigamente, ser vaidoso era quase um constrangimento.
Hoje, virou estratégia.
Mas o fato de algo se tornar comum não o torna menos nocivo.
A vaidade, quando não contida, cresce feito erva daninha: invade o discurso, contamina as relações e, sobretudo, afasta o indivíduo de si mesmo.
E pior: agora que cada um acredita ser um canal, uma emissora, um palco ambulante, os estragos se amplificam.
Nunca se viu tanta gente transmitindo.
Falando para ninguém, afirmando o óbvio, ensinando o que não vive, opinando sobre o que não estuda.
Sobre o que não conhece…
Como se bastasse ter um celular e um espelho para virar referência.
Como se bastasse se achar para que o mundo concordasse.
Mas você acha mesmo que isso não tem um preço?
Claro que tem.
E ele é alto.
Uma sociedade que valoriza mais a estética da fala do que o conteúdo da escuta, que premia o grito e ignora a profundidade, está condenada à superficialidade.
E viver rodeado de gente superficial, te força a se esvaziar também.
É o princípio das influências invisíveis: somos a média das cinco pessoas com quem mais convivemos.
E se essas cinco pessoas só falam de si mesmas, das próprias metas, dos próprios filtros, das próprias supostas verdades… o mundo vai encolhendo.
A alma também.
A vaidade não apenas rouba tempo.
Ela rouba profundidade.
E onde há excesso de vaidade, sobra ruído e falta silêncio, aquele silêncio fértil onde moram as ideias boas, as decisões justas e a verdadeira paz.
A vaidade, afinal, é irmã da comparação, prima da inveja e filha do ego inflado.
E nenhuma dessas presenças constrói. Elas competem, inflam, disfarçam.
Mas não sustentam.
E como todo sentimento disfuncional, cobram um preço coletivo.
Porque quando muitos se embriagam da própria imagem, a lucidez do todo se dilui.
E a civilização regride.
É preciso ter coragem para nadar contra essa maré.
Coragem de cultivar a humildade, não como gesto submisso, mas como consciência de que o outro também existe.
Coragem de se aprofundar quando todos deslizam.
Coragem de silenciar, às vezes, para escutar com real interesse.
Coragem, sobretudo, de ser inteiro num mundo que exige aparência.
Vaidade pode até parecer um detalhe.
Mas é um veneno sorrateiro.
E se não for percebido, tratado, contido, nos torna caricaturas de nós mesmos.
Entre ser admirado e ser respeitado, prefira sempre o segundo.
Porque a admiração costuma se apoiar no brilho. O respeito, na verdade.
Que pode até rimar com vaidade… mas caminha em direção oposta, sem pressa, com os pés no chão e a alma em paz.
Enquanto a vaidade grita por aplauso, o respeito sussurra dignidade.
E no fim, é ele quem fica.
Porque brilho passa.
Mas presença, essa que vem da experiência, não tem preço.