O Carnaval já está batendo à porta e, para muitas crianças, é sinônimo de alegria, fantasias e brincadeiras. No entanto, para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), o excesso de estímulos pode transformar a festa em um grande desafio. O barulho das marchinhas, as luzes piscantes nos bailes e até mesmo as mudanças de rotina podem gerar desconforto e crises sensoriais. Para ajudar as famílias a aproveitarem o feriado com mais tranquilidade, a neuropsicóloga Bárbara Calmeto compartilha estratégias para minimizar os impactos do Carnaval no bem-estar dos pequenos.
Previsibilidade ajuda a reduzir a ansiedade
Para evitar que a criança se sinta sobrecarregada, é essencial prepará-la com antecedência. “Explique como os blocos e bailes são organizados, por que as fantasias são usadas e qual o motivo da música alta. Mostre que, mesmo sendo algo fora da rotina, ainda é um ambiente seguro para brincar”, recomenda Calmeto.

Outra estratégia eficiente é apresentar um cronograma claro sobre o evento. “Crianças ficam mais tranquilas quando sabem o que esperar. Diga quanto tempo vai durar, quando termina e o que vai acontecer em cada momento. Se forem a um baile, deixe a criança participar do planejamento, perguntar sobre o que mais lhe interessa e, se possível, levar um amigo”, orienta.
Ambiente mais confortável e seguro
Mesmo com planejamento, a exposição prolongada a estímulos intensos pode ser desgastante. Por isso, escolher bem o local e onde ficar dentro dele faz toda a diferença. “Evite aglomerações. Nos blocos de rua, prefira as laterais, que costumam ser mais vazias. Nos bailes, opte por mesas mais distantes do centro do salão, onde o som e a movimentação são menos intensos”, sugere.
Se ainda assim a criança demonstrar incômodo, fones de ouvido com abafadores de som podem ser úteis – mas com uma ressalva. “É um recurso pontual, para momentos específicos. Se a criança usar por muito tempo, pode desenvolver uma sensibilidade maior ao som”, alerta a especialista.
E se a viagem for o plano?
Se a ideia da família for viajar durante o Carnaval, a preparação também é essencial. “A mudança de ambiente pode ser desconfortável para crianças com TEA. Hotéis e casas alugadas são diferentes do que estão acostumadas, e até detalhes como dividir o quarto, comer em um refeitório barulhento ou lidar com uma pressão diferente da água do chuveiro podem incomodar”, explica Calmeto.
Para suavizar essa transição, ela sugere:
Levar brinquedos e objetos familiares para criar uma sensação de segurança.
Fazer trajetos de carro mais longos antes da viagem para preparar a criança para o tempo na estrada.
Ter sempre snacks preferidos à mão para manter o conforto na alimentação.
Criar uma playlist com músicas que a criança gosta, para ajudá-la a relaxar no novo ambiente.
Respeite o ritmo da criança
Mesmo com todas as adaptações, algumas crianças podem simplesmente não querer participar das festividades. E está tudo bem! O importante é respeitar os limites delas.
“Se for inevitável estar perto de comemorações, tente oferecer algo que traga conforto, como um brinquedo especial ou um paninho de apego. Além disso, encontrar espaços mais tranquilos pode ser uma boa solução”, completa a neuropsicóloga.
Cuidado com o calor e o bem-estar
No meio da animação, Bárbara lembra que é comum que algumas rotinas sejam esquecidas – o que pode impactar diretamente no bem-estar da criança. Fique atento a alguns cuidados essenciais:
Mantenha uma alimentação leve e incentive a hidratação com água e sucos naturais.
Escolha fantasias frescas e confortáveis, que não apertem ou causem irritação.
Após o evento, garanta um banho relaxante e uma boa noite de sono para ajudar a regular o sistema sensorial da criança.
Com as adaptações certas, o Carnaval pode deixar de ser um momento de estresse e se tornar uma experiência mais positiva e agradável para toda a família. Afinal, a folia pode ser vivida de diversas formas – e o importante é que cada um encontre a sua maneira de curtir.