Idealizado por Dona Carmem Virgínia, iabassê do Afoxé Ogbon Obá, o Ubuntu integra a programação oficial do Carnaval do Recife pelo sexto ano consecutivo
Em uma cidade que valoriza suas raízes africanas e sua herança cultural, a participação das agremiações no Carnaval cresce a cada ano, levando às ruas a alegria e a energia dos terreiros de candomblé. A sexta edição do Ubuntu – Uma consagração ao povo negro reunirá 29 grupos de afoxé, que, por meio da dança, da música, das cores e do axé, pedem as bênçãos dos Orixás para a festa.
Idealizado por Dona Carmem Virgínia, iabassê do Afoxé Ogbon Obá e proprietária do restaurante Altar Cozinha Ancestral, o Projeto Ubuntu nasceu em parceria com integrantes do Comitê dos Afoxés do Recife, formado por Marcos Silva, Jorge Feo e Dariu Pereira, que também assumem a direção artística e religiosa da cerimônia. O evento homenageia aqueles que seguem na luta pela valorização da cultura negra e os que deixaram um legado na preservação das tradições afro-brasileiras.

Pelo sexto ano consecutivo, o Ubuntu integra a programação oficial do Carnaval do Recife, promovido pela Prefeitura do Recife. A tradicional lavagem da Avenida Rio Branco com as águas de Oxalá acontecerá no dia 26 de fevereiro, convidando todos que estiverem no Bairro do Recife a participarem desse momento de fé e celebração.
A cerimônia começará às 6h, com a preparação do banho de ervas. À tarde, os grupos de afoxé se reúnem para a lavagem da Avenida Rio Branco, conduzindo os foliões em um ritual de purificação até o Marco Zero. O evento contará com uma apresentação especial da cantora Virgínia Rodrigues, e cada afoxé entoará cânticos em reverência aos Orixás.
Além da celebração espiritual, o Ubuntu destaca a conexão entre a cultura afro-religiosa e a preservação ambiental. “O Ubuntu é um momento de união das casas de axé por meio do candomblé de rua, que são os afoxés. Este ano, reforçamos a importância da ecologia, pois cuidar da natureza é também cuidar dos nossos Orixás”, explica Mãe Carmem Virgínia, uma das idealizadoras do evento.
Os ogãs, músicos dos terreiros das diversas nações das religiões de matriz africana, marcam o ritmo que faz as saias girarem, evocando proteção e boas energias para os dias de folia. As crianças, conhecidas como erês, também terão um papel especial, encantando o público e resgatando a pureza e a alegria do Carnaval.
Os cânticos entoados durante a cerimônia seguem o ritmo ijexá e são cantados em iorubá, exaltando entidades como Iemanjá, Exu, Oxóssi, Xangô, Ogum, Nanã, Oxum e Iansã.
Ritual e celebração no Marco Zero – O trajeto da Avenida Rio Branco até o Marco Zero é marcado por um ritual de purificação, onde os participantes recebem um banho de ervas sagradas, chamado amaci (omíeró). A mistura de água com ewé (folhas sagradas) é preparada por ialorixás e babalorixás dos 29 afoxés, reforçando a energia de proteção e renovação.
Conhecido como o “candomblé de rua”, o afoxé é uma das expressões mais marcantes da cultura africana e um símbolo da resistência negra no Brasil. Incorporado ao Carnaval do Recife, ele transforma as ruas em um grande terreiro, onde a percussão, as cores dos Orixás e a dança celebram a ancestralidade e a diversidade cultural.
Ao entardecer, o Ubuntu se torna um espetáculo vibrante, repleto de fé, música e tradição, convidando todos a celebrarem a vida e a cultura negra. A festa se conecta a outra grande apresentação: o Tumaraca, que acontece no palco do Marco Zero, consolidando o Carnaval do Recife como um dos maiores palcos da cultura afro-brasileira. “O Ubuntu não é apenas uma celebração, é um chamado à resistência, à fé e à ancestralidade. Quando os afoxés tomam as ruas, é a história do nosso povo que ecoa em cada toque de tambor, em cada corpo que dança. Convidamos todos a estarem conosco nesse grande ato de força, união e axé, abrindo os caminhos para um Carnaval que honra a cultura negra e suas raízes”, convida Carmem Virginia.