Relatório GEM das Nações Unidas revela que país asiático reaproveita 613 mil toneladas de dispositivos descartados; Movimento Circular esteve no Japão e compartilha experiências em congresso internacional

Com altos índices de reciclagem de lixo eletrônico e reaproveitamento de recursos na cadeia produtiva, o Japão é uma sociedade voltada para o modelo de economia circular e pode servir de exemplo para outros países, inclusive o Brasil.

De acordo com o relatório das Nações Unidas Global E-waste Monitor (GEM), o Japão produziu 2,6 milhões de toneladas de lixo eletrônico em 2022 e reciclou 613,4 mil toneladas – um percentual de 23,25% de aproveitamento que coloca o país como o maior reciclador de aparelhos eletrônicos da Ásia.

Pela limitação de recursos naturais e espaço demográfico, o Japão é um candidato natural à reciclagem e reaproveitamento de materiais, mas a motivação do país não é apenas econômica. A sociedade japonesa abraçou a cultura da circularidade e possui políticas públicas avançadas que direcionam a produção industrial e coleta de resíduos, bem como educacionais, onde as crianças aprendem desde cedo a evitar o desperdício e o uso adequado dos recursos.

Cada cidadão é responsável pelo descarte correto dos resíduos e existe infraestrutura pública de coleta quase universalizada. Isso é fundamental para destinar os materiais às respectivas cadeias produtivas, que reprocessam o material e reduzem a necessidade de extração de matérias-primas na natureza.

Sociedade circular

A reciclagem de lixo eletrônico é apenas um exemplo, mas o Japão possui várias ações significativas de circularidade. Foi o que Vinicius Saraceni, Diretor Geral do Movimento Circular, comprovou quando esteve no Japão entre os dias 6 e 19 de março. Na missão executiva, Vinícius teve a oportunidade de aprofundar conhecimentos sobre o modelo japonês e debater formas de cooperação em Economia Circular entre o Japão e a América Latina.

“O que aprendemos no Japão é como a participação das pessoas é importante na criação de uma sociedade circular. O Movimento Circular defende essa migração e, para isso, precisamos de um novo olhar que envolva mudanças comportamentais e sociais. Seja para criar um processo de economia circular que vai do mais simples ao mais complexo, o papel da sociedade é crucial.”

As experiências de Vinícius no Japão serão compartilhadas no ‘Congresso Internacional de Sustentabilidade para Pequenos Negócios – CICLOS’, que acontece nos dias 24 e 25 de maio em Cuiabá (MT). O evento é realizado pelo Centro Sebrae de Sustentabilidade (CSS) de Mato Grosso e vai reunir empreendedores e especialistas para debater práticas de ESG (Ambiental, Social e Governança), bioeconomia, desenvolvimento local, liderança e gestão sustentável.

De acordo com Vinicius, a migração para uma sociedade circular no Brasil depende do tripé formado por regulação, cultura e investimento. Por aqui, a criação de políticas públicas está no começo, mas começa a dar os primeiros passos. “Temos o Programa Nacional de Resíduos Sólidos, que trata de logística reversa. Com base nessa regulamentação, os estados estão criando regras próprias de logística reversa que estão dando impulso aos investimentos.”

Em paralelo à atuação do Estado, é preciso trabalhar na questão cultural, reforça Vinícius. “Falta conhecimento e informação para que as pessoas possam mudar seu comportamento e se tornarem agentes de transformação rumo a uma sociedade circular.”

Nesse sentido, cabe aos consumidores fazerem sua parte ao exigir comportamentos sustentáveis das empresas e compartilhar a importância da circularidade, reforça Vinícius. “O consumidor está mais consciente e criterioso. Ele quer ver coleta seletiva nos estabelecimentos, na porta de casa, por exemplo, e produtos fabricados com responsabilidade socioambiental.”

A mudança de cultura foi o que tornou o Japão uma sociedade circular e que pode ser replicado no Brasil, observa Saraceni. “Quando o governo, sociedade e setor produtivo atuarem juntos e assumirem o seu papel, conseguiremos criar uma sociedade circular.”

Sobre Vinicius Saraceni 

Empreendedor social, é fundador da Atina Educação e idealizador do Movimento Circular. Agregador e formulador de iniciativas e projetos educacionais em sustentabilidade e economia circular. Impactou positivamente mais de 5 milhões de pessoas com apoio de dezenas de parceiros públicos e privados, por meio de iniciativas educacionais e de fomento à cultura, em diferentes frentes de atuação.

 Sobre o Movimento Circular

Criado em 2020, o Movimento Circular é um ecossistema colaborativo que se empenha em incentivar a transição da economia linear para a circular. A ideia de que todo recurso pode ser reaproveitado e transformado é o mote da Economia Circular, conceito-base do movimento. O Movimento Circular é uma iniciativa aberta que promove espaços colaborativos com o objetivo de informar as pessoas e instituições de que um futuro sem lixo é possível a partir da educação e cultura, da adoção de novos comportamentos, da inclusão e do desenvolvimento de novos processos, produtos e atitudes. O trabalho conta com a parceria pioneira da Dow, empresa de produtos químicos, plásticos e agropecuários, com sede em Michigan, Estados Unidos. O Movimento Circular contabiliza hoje 2 milhões de pessoas impactadas por suas ativações e conteúdos.