A partir desta semana, o Portal Curso da Vida passa a acompanhar e a publicar todas as edições do programa de TV Bonde Alegria, criado há sete anos para, entre outros objetivos, dar voz e espaço ao idoso, funcionando como canal de expressão e difusão da realidade desta população no Brasil.
Atualmente, uma entre dez pessoas tem 60 anos de idade ou mais. Estima-se que em 2050 essa relação será de uma para cinco em todo o mundo. De acordo com o responsável pelo projeto, jornalista Anderson Barreto, “apesar de representar um elevado percentual da população, este grupo não é representado nas produções audiovisuais veiculadas nas TVs públicas e comerciais”.
O Bonde Alegria é fruto de uma parceria entre o Centro de Tecnologia Educacional da Uerj (CTE) e a Universidade Aberta da Terceira Idade (UnATI), que se concretizou na realização da Oficina de Produção e Apresentação para TV. Exibido na webtv da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (tvuerj.com.br), o programa mantém o foco na temática da terceira idade e conta com a participação efetiva de idosos em sua elaboração, da reunião de pauta à reportagem, apresentação e pós-produção.
A oficina acontece uma vez por semana na UnATI. São apresentados aos alunos textos que abordam as fases de produção de programas para a TV e suas especificidades. Na parte prática, os alunos exercitam técnicas jornalísticas de entrevista e apresentação, participam das reuniões de pauta dando sugestões e colaborando na produção.
Os alunos que trabalham na produção do programa, cerca de 30 participantes por semestre, são integrantes da oficina, oferecida durante o ano letivo da Uerj. “Por ser um projeto sem fins lucrativos, podemos testar e experimentar”, diz Barreto. “Por isso, nossa maior preocupação é ser um retrato do que é a terceira idade, sob o protagonismo do idoso que está na Unati/Uerj.”
Maria Hilza Evangelista da Silva, 79 anos, embarcou no Bonde da Alegria já na viagem inaugural. E se juntou à Unati em 1997. Ela é professora por formação e, no programa, já trabalhou mais de uma vez com o personagem “detetive”, que busca “desvendar” mistérios e mitos populares. Por exemplo, vai em busca de quem possa responder questões como: Comer manga com leite faz mal? Usar tinta estraga o cabelo? O café é ou não prejudicial à saúde?
Considerada a memória viva do programa, Maria Hilza mantém em CD quase todos os programas já editados e uma relação atualizada das personalidades entrevistadas, para evitar repetição. Na avaliação dela, participar do Bonde da Alegria lhe trouxe uma visão crítica da televisão – hoje consegue perceber até quando o continuísta erra nas cenas das novelas –, além de ter melhorado sua autoestima e acabado com a timidez. Mas foi, sobretudo, um caminho para estar mais presente na vida de sua filha, que mora fora do país e pode assisti-la na webtv.
Jaime Ramos, 84 anos, um dos alunos há mais tempo na oficina, tem orgulho de já ter entrevistado figuras como o músico Tito Madi ou o técnico Zagalo. Segundo ele, é uma oportunidade e um afago no ego poder ter contato com personalidades que são notícia. Na Unati, frequenta também os cursos de teatro, oratória, dança de salão, e as oficinas de cinema, psicomotricidade e “viagem musical”. Para ele, as discussões para escolha das pautas das reportagens que serão produzidas exercita a prática democrática e o respeito às decisões da maioria.
Anderson Barreto destaca que a iniciativa não se confunde com um curso de extensão. “É uma oficina livre. O meu intuito é apresentar técnicas de produção audiovisual, formando cabeças pensantes para a inclusão e a discussão do papel do idoso na mídia.” Entre os principais propósitos do projeto, diz ele, estão capacitar e incluir o idoso no processo de realização de um programa audiovisual; incentivar o debate sobre a cidadania; difundir o conhecimento acadêmico acerca da terceira idade; analisar, interpretar e produzir comunicação de forma crítica e construtiva; divulgar a realidade política, cultural, social e econômica dos idosos.
“O programa Bonde Alegria atua como um contraponto à imagem geralmente estereotipada da terceira idade na mídia, contribuindo para a valorização desta população e para uma nova concepção de vida produtiva após os 60 anos de idade”, explica Barreto. “É uma ação prática de visibilidade para integrar esta importante parcela de nossa sociedade, contribuindo para a democratização do espaço midiático e e da internet.”