
DEPRESSÃO: UMA DOENÇA DO CÉREBRO
“Uma existência nua, exposta à dor, atormentada pela luz, ferida por todo som”
Hugo von Hofmannsthal
(1874-1929)
A depressão é um quadro clínico preciso, de causa multifatorial que inclui
um desequilíbrio bioquímico envolvendo neurotransmissores como serotonina e
noradrenalina. Segundo a OMS em mais ou menos 15 anos será a 2º maior
causa de comprometimento funcional. Entende-se por funcionalidade atividades
como trabalhar, estudar, cuidar da higiene pessoal, contas, atividades
domésticas e etc.
A tristeza e a melancolia parecem ser inerentes à nossa existência e
mesmo à nossa dinâmica psíquica, entretanto não podemos correr o risco de
perder as fronteiras entre a dor de existir, em alguns momentos de nossas vidas,
e os estados depressivos, que tendem a nos lançar no profundo da solidão e na
negatividade irremediável da vida.
Na depressão há sintomas claros como falta de perspectiva, perda de
interesse em atividades antes prazerosas, incapacidade de sentir prazer
(anedonia), negatividade ante ao mundo, ao futuro e a si mesmo, além de
diminuição da libido, facilidade em fatigar-se, alterações cognitivas como pior
rendimento da atenção, memória, tomada de decisão, raciocínio lógico e
flexibilidade mental, assim como alterações no sono, isolamento social,
alterações psicomotoras, perda de energia e vitalidade generalizada (astenia).
Há também sintomas não tão claros como incertezas, culpa, exclusão,
sentimento de inferioridade, sensação de angústia e confusão no momento da
organização dos pensamentos, sensação de impotência e derrota associados ao
medo, com intensidades distintas que causam a sensação da perda de controle
da própria vida.
A percepção do tempo do EU parece ser diferente do tempo do mundo,
em que parece que a pessoa está presa em um passado cinzento sem
perspectivas para o futuro, ou seja, é o passado que alimenta o presente vazio
e angustiante, é como se a pessoa com depressão carregasse o próprio corpo,
um corpo carregado e lento, encarcerado dentro dos próprios limites com a
sensação de perda dos próprios valores existenciais.
Sabemos que o cérebro é um órgão que sofre neuroplasticidade, sendo
assim permeável aos estímulos e por isso passível de modificações em sua
estrutura e funcionamento, tanto de forma negativa quanto positiva. Saber que
esse órgão de tamanha nobreza é mutável e se ressente de experiências
negativas é saber também que é transformado por experiências positivas, tais
como a Terapia Cognitivo Comportamental e suas técnicas, exercícios físicos,
alimentação saudável, a convivência em comunidades de amigos / familiares e
etc.
O tratamento da depressão é transdisciplinar, portanto pode envolver
profissionais da área da psicologia (Terapia Cognitivo Comportamental),
Psiquiatria, Terapia Ocupacional e/ou Acompanhante terapêutico, que juntos
definirão estratégias e um plano de tratamento junto ao cliente possibilitando
melhora no funcionamento biológico do cérebro com as medicações,
transformação da percepção associada ao comportamento, construção da rotina
e hábitos para um novo conceito de cotidiano entre outros benefícios.
A depressão é uma doença que leva diversas pessoas no mundo a
cometer suicídio, é grave e merece atenção tanto quanto as doenças
cancerígenas, portanto o primeiro passo será sempre pedir ajuda, profissionais
bem capacitados podem salvar vidas, mas nós só salvamos aqueles que chegam
até nós.
Fernanda Machado
Psicóloga e Neuropsicóloga Clínica