Com metas, rotina quebrada e cobranças familiares, dezembro intensifica ansiedade, cansaço e culpa, explica o médico Dr. Flavio Ramos.
Quando o mês das festas vira fonte de pressão
Com a aproximação do fim do ano, cresce o número de relatos de ansiedade, cansaço extremo e sentimento de culpa. Embora dezembro seja culturalmente associado a celebrações e descanso, especialistas alertam para uma sobrecarga emocional significativa nesse período.
A combinação entre prazos mais curtos, aumento das demandas sociais e quebra da rotina favorece o desgaste. Para muitas pessoas, o clima festivo convive com pressões silenciosas, que nem sempre são percebidas de imediato.
Dezembro: mês curto, demandas acumuladas
Segundo o Dr. Flavio Ramos, endoscopista formado pela UFRJ e membro titular da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED), trata-se de um período atípico. Além do lazer, há maior pressão para cumprir metas profissionais e familiares em menos tempo.
Ele lembra que dezembro é um mês encurtado por feriados, férias e inúmeras confraternizações. As pessoas precisam bater metas, organizar tarefas e dar conta de compromissos em um intervalo menor.
As exigências não são apenas profissionais. Encontros em família, preparativos de festas, compra de presentes e demandas escolares das crianças entram na conta. “Tudo isso acaba gerando uma ansiedade extra típica do Natal”, observa o médico.
Encontros familiares e exaustão emocional
Os encontros familiares de fim de ano também exercem forte impacto emocional. Nem sempre são momentos leves ou acolhedores, especialmente quando envolvem pessoas com quem não há convivência frequente.
Rever parentes queridos ou até indesejados pode despertar emoções ambíguas. “Rever familiares que não se encontram há muito tempo desperta emoções diversas, o que contribui para a exaustão emocional”, afirma o especialista.
Esse cenário exige energia emocional adicional para lidar com expectativas, comparações e possíveis conflitos. Em muitos casos, o desgaste aparece como irritação, tristeza ou sensação de esgotamento.
Rotina quebrada, estresse elevado e “fome hedônica”
Além da carga emocional, as mudanças bruscas na rotina afetam diretamente o organismo. Entradas e saídas no trabalho, excesso de compromissos sociais e estímulos constantes dificultam o descanso adequado.
Com o corpo sobrecarregado, cresce a busca por compensações rápidas. “Para muitas pessoas, essa compensação vem pela alimentação: a chamada fome hedônica, episódios de compulsão, especialmente por carboidratos e açúcar, além do aumento do consumo de bebidas alcoólicas”, explica o Dr. Flavio.
Durante as festas de fim de ano, esse padrão tende a se intensificar. “Nesse período, esses excessos se tornam mais frequentes, já que há maior oferta de comida e bebida e um ambiente mais propício aos abusos”, completa.
Excesso, culpa e autocrítica no fim de ano
O problema, segundo o especialista, é o ciclo que se forma entre excessos e culpa. Episódios de compulsão alimentar ou consumo exagerado de álcool costumam ser seguidos por forte autocrítica.
Esse sentimento é ainda mais intenso entre pessoas em processo de mudança de hábitos, em busca de uma vida mais saudável ou melhora do condicionamento físico. Para elas, cada deslize parece comprometer todo o esforço anterior.
Essa percepção, porém, ignora o contexto específico de dezembro, marcado por estímulos constantes e ambientes que favorecem a quebra da rotina. O resultado é uma sobrecarga emocional que se soma ao cansaço acumulado.
Entender o contexto para aliviar a culpa
Para o Dr. Flavio, compreender os fatores emocionais envolvidos no período é essencial para atravessar o fim de ano com mais equilíbrio. Reconhecer que o cansaço de dezembro é, muitas vezes, fruto de um contexto coletivo, ajuda a reduzir a autocobrança.
Ele destaca que não se trata de falhas individuais, mas de um ambiente que concentra prazos, pressões e expectativas. Ao identificar esse cenário, torna-se possível ajustar expectativas, cuidar melhor dos limites pessoais e buscar apoio quando necessário.
Desse modo, dezembro pode continuar sendo um mês de encontros e celebrações, sem deixar de lado o cuidado com a saúde emocional. O equilíbrio, segundo o especialista, começa ao reconhecer que sentir-se mais cansado nesse período é humano e compreensível.

