As férias chegaram. Mochilas guardadas, despertadores desligados, um respiro merecido depois de meses intensos de aulas, simulados e provas. Mas, para muitos estudantes, especialmente os que enfrentam o último ano do ensino médio, esse período de pausa carrega uma contradição: em vez de alívio, traz culpa, inquietação e ansiedade.
A sensação de que “deveriam estar estudando” o tempo todo torna difícil até aproveitar um passeio ou dormir até mais tarde. E essa cobrança constante, mesmo em momentos de descanso, tem reflexo direto no bem-estar físico e emocional dos adolescentes.
O dado por trás da pressão
De acordo com uma pesquisa recente da plataforma Statista (2024), 65% dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos apresentam sintomas de ansiedade. A faixa etária inclui justamente quem está em fase de vestibular, e o índice é significativamente superior à média nacional de 52%. A saúde mental juvenil se tornou, inclusive, tema recorrente em debates educacionais e políticas públicas com foco especial na adolescência escolar.
Segundo a diretora do PB Colégio e Curso, Valma Souza, o problema não está apenas na carga de estudos, mas na forma como a pausa é percebida:
“Muitos adolescentes associam parar ao fracasso. Acham que, se descansarem, estão ficando para trás. Mas a verdade é que o descanso é estratégico: recupera energia, reduz o estresse e melhora até a retenção do conteúdo.”

Ela explica que é preciso ensinar aos jovens que estudar com inteligência inclui também não estudar o tempo todo.
A importância da família no “modo pausa”
Valma, que também é mãe, lembra que o papel da família pode ser determinante para quebrar esse ciclo de culpa e cobrança.
“A família pode e deve ajudar a dosar o ritmo. Às vezes, o adolescente precisa de permissão para descansar, e ela vem no olhar dos pais, na tranquilidade do ambiente em casa, na fala que reforça que está tudo bem não estudar o tempo todo.”
Além disso, a diretora alerta que muitos adolescentes não verbalizam o cansaço, mas demonstram através de comportamento: irritabilidade, insônia, choro fácil, apatia ou, paradoxalmente, hiperprodutividade são sinais de alerta.
“Se o jovem está sempre exausto, emocionalmente instável ou se recusa a parar porque tem medo de falhar, é hora de atenção. A ansiedade faz parte do processo, mas quando ultrapassa o limite do saudável, é preciso buscar apoio profissional”, completa Valma.
Como equilibrar descanso e responsabilidade nas férias
Nem tudo precisa ser 8 ou 80. Não é necessário passar o mês estudando pesado, mas também não é recomendado se desconectar completamente. O segredo está no equilíbrio e em uma rotina adaptada para o momento.
Dicas práticas para pais e alunos lidarem com a pressão:
Crie uma rotina leve de revisão:
Estudar uma ou duas vezes por semana já ajuda a manter o cérebro ativo.
Incentive atividades culturais prazerosas:
Filmes, livros, exposições e conversas enriquecedoras também são estudo — só que de outro jeito.
Inclua momentos de lazer intencional:
Pausas programadas com amigos ou família ajudam a relaxar sem culpa.
Mantenha horários de sono regulares:
Virar noites desregula o humor e atrapalha a concentração.
Converse abertamente sobre metas e sentimentos:
Os pais não precisam pressionar nem poupar em excesso. O equilíbrio nasce do diálogo.
Reforce a confiança no processo:
É essencial que o jovem sinta que descansar também é parte da preparação — e não uma falha.
Quando acender o sinal de alerta?
A ansiedade é uma reação natural, mas precisa ser monitorada. Fique atento se o estudante apresentar:
- Dificuldade constante para dormir
- Isolamento social ou perda de interesse em atividades que gostava
- Crises de choro frequentes ou irritabilidade extrema
- Queixas físicas persistentes (como dores de cabeça ou estômago)
- Medo constante de reprovação, mesmo sem motivo concreto
“Esses sinais mostram que não é só nervosismo passageiro. Pode ser ansiedade em um grau que exige acompanhamento especializado”, orienta Valma que diz que o ideal é buscar apoio psicológico especializado: “Não dá para buscar aprovação acadêmica sem saúde mental. A jornada é longa, e a mente precisa estar forte para chegar até o fim”.
Férias não são o contrário do estudo, são parte dele
Descansar não é desviar do objetivo, é abastecer o corpo e a mente para seguir com mais força. Como destaca Valma:
“A vida adulta vai exigir esse equilíbrio o tempo todo. Aproveitar as férias de forma consciente é também um exercício de maturidade. É quando o aluno aprende que cuidar de si faz parte da preparação para qualquer grande sonho.”, finaliza.