O Império Serrano escolheu o samba-enredo em homenagem à escritora Conceição Evaristo. A parceria de Hamilton Fofão venceu a disputa em Madureira.
‘É escrita sem censura’! Samba de Hamilton Fofão vence no Império Serrano
O Império Serrano definiu, na madrugada deste domingo (19 de outubro), o samba-enredo que representará a escola no Carnaval 2026. A parceria de Hamilton Fofão, do Samba 9, foi a grande vencedora da disputa e será o hino do enredo “Ponciá Evaristo Flor do Mulungu”, uma homenagem à escritora Conceição Evaristo, desenvolvida pelo carnavalesco Renato Esteves para a Série Ouro.
Noite de emoção e homenagem à história imperiana
A decisão, realizada na quadra da agremiação em Madureira, contou com quatro parcerias finalistas e foi marcada pela emoção e pela força do canto da comunidade. Durante o evento, houve uma homenagem especial ao compositor Aluisio Machado, o maior vencedor de disputas de samba-enredo da história do Império Serrano.
O troféu entregue à parceria campeã recebeu o nome do artista, reforçando o vínculo entre tradição e renovação que marca a trajetória do Reizinho de Madureira.

Samba vencedor exalta ancestralidade e resistência
O samba, composto por Hamilton Fofão, Dudu Senna, Leandro Maninho, Cláudio Russo, Lico Monteiro, Jorginho da Flor, Silvio Romal e Marco Aurélio, emocionou o público e o júri com versos que celebram a literatura negra, a ancestralidade e a resistência cultural.
Com o refrão “É escrita sem censura no Império a florescer!”, o samba consagra a força poética e social de Conceição Evaristo, transformando sua obra em inspiração para o desfile. A canção reafirma o compromisso da escola com temas que enaltecem a identidade afro-brasileira e a potência feminina.
Letra do samba-enredo campeão: “Ponciá Evaristo Flor do Mulungu”
Sou eu, a flor do mulungu
Brilham os olhos d’água
Orayeyê! É de mamãe Oxum!
Sou Ponciá consagrada
Entregue às palavras e ao axé das ancestrais
Se tempos atrás ecoavam vozes do porão
Hoje reescrevo a história
Poesia a despertar nas pretas mãos
Nos becos da minha memória
Meu verbo é ouro de aluvião
Meu verso é barro de artesãoPra Folia de Reis, chama vô e chama tio
Na Folia de Reis, vou vivendo por um “Fio”
Ô Lê Lê, lá vem batuque, pra cangira começar
Angorô, vira menino! Angorô, não vou virar!Não é fácil emergir nesse contraste
Benevuto, a maldade, não quer me ver sorrir
No refúgio desses becos e vielas
De mãos dadas com Sabela
Eu só quero ser feliz
O Rio que me acolheu me ensinou também a florir
Vi muita gente de lá no rosto negro do povo daqui
Sou eu quem dá voz à caneta que silencia o fuzil
Me torno imortal no livro Brasil!
Malungo! Que Negro-estrela possa ser reconhecido
Sem o choro de um futuro interrompido
Por todo preto, escreviver!
A gente combinamos de não morrer! (Combinamos de não morrer!)É Kizomba de preta literatura!
É escrita sem censura no Império a florescer!
Casa de preto também é academia
Serrinha! Ponciá Yalodê!
Rumo à Sapucaí
Com o samba definido, o Império Serrano se prepara para disputar o título da Série Ouro em 2026. A escola será a quarta a desfilar no sábado, 14 de fevereiro, na Marquês de Sapucaí, levando à avenida um enredo que promete unir poesia, ancestralidade e força comunitária.
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Fotos: Gabriel Belmiro