Alex Ferraz

Casamento no Quilombo do Grotão celebra amor e ancestralidade

Foro de Thammy Carvalho

O casamento de Yamim Lobo e Roberto Jr. no Quilombo do Grotão foi um marco de ancestralidade, fé plural e resistência cultural em Niterói.


Um casamento histórico em território quilombola

No dia 6 de setembro, o Quilombo do Grotão, em Niterói, recebeu um dos eventos mais marcantes de sua história: o casamento de Yamim Lobo e Roberto Jr.. Mais do que uma união, a cerimônia se tornou um ato de representatividade, espiritualidade e resistência, reunindo cerca de 200 convidados em um espaço de memória e liberdade.


Maria Gal – Babalawô Ivanir dos Santos – Leco Biagioni

Rito conduzido por Ivanir dos Santos

A celebração foi conduzida pelo Babalawô Ivanir dos Santos, pai da noiva, que destacou a força ancestral de Orunmilá, o orixá do destino.
Foi em solo de um quilombo que celebrei, com toda a força ancestral, o casamento da minha filha. Como Babalawô, conduzi o rito de Ifá e, em seguida, tive a honra de receber amigos de diferentes caminhos da fé para uma bênção inter-religiosa. Mais do que uma cerimônia de casamento, vivemos juntos um gesto de harmonia entre crenças, onde a fé se mostrou plural e o respeito, universal”, afirmou.

O Babalawô Marcelo Monteiro Ifamakanjuọla Alabi Adedosu também participou, trazendo a tradição yorùbá em rituais que simbolizam a união entre famílias e a bênção dos ancestrais.


rito – fotos de Zezinho

Uma bênção inter-religiosa

Após o rito de Ifá, a celebração contou com uma bênção inter-religiosa que reuniu diferentes expressões de fé:


Estética, ancestralidade e celebração

Sob a curadoria do cerimonialista Leco Biagioni, a festa rompeu com padrões tradicionais e assumiu caráter político e simbólico.

A decoração, assinada também por Biagioni, privilegiou tecidos africanos, vasos de barro e folhagens exuberantes, criando uma atmosfera de raiz e resistência.

Entre os convidados estavam personalidades como Marquinhos de Oswaldo Cruz, a atriz Maria Gal e escritores como Heleana Theodoro e Jacques d’ Adesky.


Sabores e música de raiz

A gastronomia foi marcada por pratos típicos brasileiros, como mini moqueca de banana-da-terra, baião de dois com queijo coalho, além da tradicional feijoada, assinada pelo chef Renatão, do próprio quilombo.

A festa foi embalada por um show do grupo Awurê, que celebrou a ancestralidade africana em forma de música.


Amor, resistência e futuro

Para o cerimonialista Leco Biagioni, organizar o evento foi “uma honra imensa”, transformando a cerimônia em um gesto de valorização das raízes afro-brasileiras.

O pai da noiva resumiu o simbolismo do momento:
É um gesto de reafirmação das nossas raízes, da liberdade religiosa e da resistência que os quilombos simbolizam na história do Brasil. Essa união carrega o amor, mas também a força de uma ancestralidade que continua viva e presente. Para mim, é motivo de grande orgulho e esperança.”

No auge da celebração, ao som de atabaques e cânticos em iorubá, duas pombas brancas foram soltas, simbolizando a paz.

Como disse um convidado: “foi uma das cerimônias mais pretas e mais lindas que já participei”.

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