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Presa na tela: o vício em redes sociais e os danos silenciosos à saúde mental

Psicólogo Roberto Roni alerta para o impacto do uso excessivo das redes e como esse comportamento está adoecendo emocionalmente adultos e jovens

Nunca estivemos tão conectados — e, ao mesmo tempo, tão distraídos, ansiosos e exaustos. As redes sociais, que surgiram como ferramentas de aproximação e entretenimento, tornaram-se hoje um fator de desequilíbrio emocional, afetando desde o sono até a autoestima das pessoas. O que muitos não percebem é que o vício digital já está sendo considerado um dos grandes desafios da saúde mental contemporânea.

“É um comportamento viciante porque ativa o sistema de recompensa do cérebro. Cada curtida, notificação ou novo conteúdo libera dopamina, e o cérebro começa a buscar esse estímulo o tempo todo. Quando percebemos, já estamos presos em um ciclo de dependência emocional e mental”, explica o psicólogo Roberto Roni, especialista em neurociência e comportamento.

O uso compulsivo das redes sociais está diretamente ligado ao aumento de quadros de ansiedade, insônia, baixa autoestima, irritabilidade e até depressão. As comparações constantes com padrões irreais de vida e beleza afetam principalmente adolescentes e jovens adultos, mas também atingem profissionais, mães e até idosos. “Muitas vezes, o celular é a primeira coisa que a pessoa olha ao acordar e a última antes de dormir. Isso já é um sinal de alerta importante”, aponta Roni.

Outro efeito preocupante é a dificuldade crescente de concentração e de lidar com o tédio ou com o silêncio. “Vivemos uma hiperestimulação. A mente não descansa mais. Perdemos a capacidade de estar presentes, de ouvir o outro com atenção e até de ficar sozinhos com nossos próprios pensamentos. Isso afeta não só o bem-estar pessoal, mas a qualidade das relações humanas”, afirma o psicólogo.

A normalização desse comportamento — muitas vezes mascarado como “rotina digital” — torna ainda mais difícil identificar o problema. Redes sociais são programadas para prender a atenção, e o design dos aplicativos explora ativamente nossos mecanismos neurológicos. “Não se trata apenas de falta de disciplina, mas de um sistema feito para gerar dependência. E quanto mais cedo reconhecemos isso, mais chances temos de resgatar o equilíbrio”, alerta Roberto Roni.

Buscar limites é o primeiro passo: estabelecer horários para o uso, silenciar notificações, fazer pausas conscientes e, se necessário, procurar acompanhamento psicológico. “Recuperar o controle da atenção é um ato de autocuidado. Não é sobre demonizar a tecnologia, mas sim entender que a mente precisa de descanso, foco e conexão real para funcionar bem. A saúde mental começa quando retomamos o protagonismo sobre nosso tempo e nossa atenção”, finaliza.

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