Alex Ferraz

Ansiedade nas férias: por que estudantes não conseguem relaxar totalmente?

As férias chegaram. Mochilas guardadas, despertadores desligados, um respiro merecido depois de meses intensos de aulas, simulados e provas. Mas, para muitos estudantes, especialmente os que enfrentam o último ano do ensino médio, esse período de pausa carrega uma contradição: em vez de alívio, traz culpa, inquietação e ansiedade.
 

A sensação de que “deveriam estar estudando” o tempo todo torna difícil até aproveitar um passeio ou dormir até mais tarde. E essa cobrança constante, mesmo em momentos de descanso, tem reflexo direto no bem-estar físico e emocional dos adolescentes.
 

O dado por trás da pressão

De acordo com uma pesquisa recente da plataforma Statista (2024), 65% dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos apresentam sintomas de ansiedade. A faixa etária inclui justamente quem está em fase de vestibular, e o índice é significativamente superior à média nacional de 52%. A saúde mental juvenil se tornou, inclusive, tema recorrente em debates educacionais e políticas públicas com foco especial na adolescência escolar.
 

Segundo a diretora do PB Colégio e Curso, Valma Souza, o problema não está apenas na carga de estudos, mas na forma como a pausa é percebida:
 

“Muitos adolescentes associam parar ao fracasso. Acham que, se descansarem, estão ficando para trás. Mas a verdade é que o descanso é estratégico: recupera energia, reduz o estresse e melhora até a retenção do conteúdo.”
 

Negative feeling and work concept. Annoyed young lady with long dark hair, carries crags of papers, exclaims negatively, cant learn material, reads encyclopedia, sits at desktop, expresses irritation

Ela explica que é preciso ensinar aos jovens que estudar com inteligência inclui também não estudar o tempo todo.
 

A importância da família no “modo pausa”

Valma, que também é mãe, lembra que o papel da família pode ser determinante para quebrar esse ciclo de culpa e cobrança.
 

“A família pode e deve ajudar a dosar o ritmo. Às vezes, o adolescente precisa de permissão para descansar, e ela vem no olhar dos pais, na tranquilidade do ambiente em casa, na fala que reforça que está tudo bem não estudar o tempo todo.”
 

Além disso, a diretora alerta que muitos adolescentes não verbalizam o cansaço, mas demonstram através de comportamento: irritabilidade, insônia, choro fácil, apatia ou, paradoxalmente, hiperprodutividade são sinais de alerta.
 

“Se o jovem está sempre exausto, emocionalmente instável ou se recusa a parar porque tem medo de falhar, é hora de atenção. A ansiedade faz parte do processo, mas quando ultrapassa o limite do saudável, é preciso buscar apoio profissional”, completa Valma.
 

Como equilibrar descanso e responsabilidade nas férias

Nem tudo precisa ser 8 ou 80. Não é necessário passar o mês estudando pesado, mas também não é recomendado se desconectar completamente. O segredo está no equilíbrio e em uma rotina adaptada para o momento.
 

Dicas práticas para pais e alunos lidarem com a pressão:
 

Crie uma rotina leve de revisão:

Estudar uma ou duas vezes por semana já ajuda a manter o cérebro ativo.

Incentive atividades culturais prazerosas:

Filmes, livros, exposições e conversas enriquecedoras também são estudo — só que de outro jeito.

Inclua momentos de lazer intencional:

Pausas programadas com amigos ou família ajudam a relaxar sem culpa.

Mantenha horários de sono regulares:

Virar noites desregula o humor e atrapalha a concentração.

Converse abertamente sobre metas e sentimentos:

Os pais não precisam pressionar nem poupar em excesso. O equilíbrio nasce do diálogo.

Reforce a confiança no processo:

É essencial que o jovem sinta que descansar também é parte da preparação — e não uma falha.

Quando acender o sinal de alerta?

A ansiedade é uma reação natural, mas precisa ser monitorada. Fique atento se o estudante apresentar:

“Esses sinais mostram que não é só nervosismo passageiro. Pode ser ansiedade em um grau que exige acompanhamento especializado”, orienta Valma que diz que o ideal é buscar apoio psicológico especializado: “Não dá para buscar aprovação acadêmica sem saúde mental. A jornada é longa, e a mente precisa estar forte para chegar até o fim”.
 

Férias não são o contrário do estudo, são parte dele

Descansar não é desviar do objetivo, é abastecer o corpo e a mente para seguir com mais força. Como destaca Valma:
 

“A vida adulta vai exigir esse equilíbrio o tempo todo. Aproveitar as férias de forma consciente é também um exercício de maturidade. É quando o aluno aprende que cuidar de si faz parte da preparação para qualquer grande sonho.”, finaliza.

Sair da versão mobile