A cineasta alagoana Marta Torres, diretora do curta-metragem “A missão encantada”, celebra os resultados conquistados durante a terceira edição do Prêmio Akira Kurosawa, que inclui a programação do 8 & Halfilm Awards, em Tokyo, no Japão. A produção foi destaque no mês de setembro, conquistando os prêmios de melhor direção, melhor curta documentário e melhor edição.  Com o título, a brasileira se torna parte de uma comunidade chamada “Wild Filmmakers”, cineastas que fazem filmes fora do mercado do cinema industrial.

O filme exibido no México no último fim de semana, também vai passar pela Coreia nos próximos dias, com abordagem que explora visualmente o conhecimento ancestral sul-americano, narrativa documental e o toque experimental.  Captado em formato digital, o filme conta com cores vibrantes e vistas panorâmicas, trazendo destaque para os quadros, que são detalhadamente compostos, revelando o olhar apurado da diretora.

“Eu achava que a fotografia iria conquistar a Ásia, mas nunca imaginei ter o filme selecionado, por exemplo, pelo Governo Chinês em um festival sobre filmes para promoção da ciência. Nem sabia que existia festival que ao invés de ‘sinopse’ pedia a ‘hipótese científica’ e meu filme foi premiado. Esse curta tem muitos símbolos sobre meio ambiente, ancestralidade, nutrição, conexões intergalácticas, um sonho-viagem, que é fruto de uma pesquisa de mestrado na linha de bioética, trabalhos na área de direitos humanos, viagens e muita escuta”, revela Marta.

A obra traz conexões com as origens familiares da artista, remetendo a brincadeiras da mãe, na infância vivida no sertão do Seridó, no Nordeste Brasileiro, quando usava a espiga de milho como boneca, sendo esta a possível inspiração para a criação da personagem “Macaxeira Rainha”.

A produção também foi exibida em países como Estados Unidos, onde passou por Nova York, Houston, Maui e Los Angeles, além de Cuba, Alemanha, França e Emirados Árabes. Uma das grandes programações do qual o trabalho fez parte foi o festival de Asolo, na Itália, considerado um dos principais do gênero de filmes de arte na Europa. O filme também participou do Marchet de Cannes, junto ao Cinema do Brasil, como um dos poucos estreantes premiados e produzido de forma independente.

“O curta tem sido premiado em categorias tão diversas, sendo selecionado em países de culturas tão diferentes, que faz dela uma obra que se expande. Cada vez que alguém assiste, fico contente. Através dos festivais entendo a potencialidade do filme. Também comemoro quando vejo outro filme brasileiro que é selecionado e procuro ver os filmes dos festivais que gosto para entender a curadoria. Cada um funciona de uma forma e isso envolve muitos fatores, por isso é motivo de comemoração quando se conquista um prêmio como este que leva o nome de um dos maiores cineastas de todos os tempos, Akira Kurosawa”, destaca Marta Torres.

Com trilha sonora original de Lindemberg Oliveira e edição de Daniel Garcia, o projeto “A missão encantada” foi realizado ao longo de cinco anos de trabalho, a partir de uma ideia descontraída e que envolveu diversas áreas do cinema com as quais a brasileira teve contato. A direção veio como uma forma de realizar um desejo antigo. “Era um sonho guardado, que dei um giro calada, para começar. Demorei muitos anos maturando”, descreve a cineasta, que captou cenas no Peru, Bolívia e Chile, para construir a narrativa.

Sobre a diretora

Com formação acadêmica voltada ao Direito, onde se graduou e cursou mestrado, Marta passou por treinamentos e aulas de capacitação voltadas à indústria do cinema, aprendendo técnicas de roteiro, dramaturgia e direção. A cineasta iniciou as primeiras produções junto a amigos em 2012 e aperfeiçoou seus conhecimentos na Bahia, Rio de Janeiro, Cuba, Europa e Los Angeles. A artista ainda lançou o livro “Direito e arte no golpe de 2016 no Brasil” e protagonizou a peça “As pequenas raposas” de Lilian Hellman, dirigida por Harildo Déda, em Salvador, além de participar de uma montagem de Shakespeare, na Europa.